sábado, fevereiro 03, 2007

Vermelha

16 anos. Não tinha mais do que isso. Média e loura. Cara de menina. Sorriso tímido e olhos grandes. Nos sapatos verdes trazia uma flor de feltro, vermelha. Falou pouco, e as poucas palavras que lhe ouvi soaram baixinho, baixinho...

17 anos, no máximo.

Cruzou aquela porta grande, numa noite igual a todas as outras. A noite e as outras. Acompanhada da mãe e irmã. Passou os olhos mas foi a mãe quem decididamente escolheu um conjunto para ela. Só até a irmã mais nova - 9 anos, no máximo - lhe mostrar o corpete de que a irmã gostara. Passei-lhe decididamente duas cruzetas para a mão e incentivei-a a que experimentasse. Ela acedeu, pouco depois a mãe foi espreitar.

- Fica-te tão bem, filha. Gostas mais desta parte de baixo ou desta?
- A Jú sabe que não gosto assim.
- Então, vai esta filha?
- Sim, Jú.

Entretanto chegou o pai - "olha o teu pai também quer ver o que comprámos", dizia a mãe, sorridente e entusiasmada. E o pai entrou, curioso e espectante, acabando por aprovar, entusiasmado, a escolha.

Senti-a apagar-se de novo. Ela não pertencia ali. Àquele entusiasmo, àquela tentativa de lhe trazer alguma compensação, àquele ânimo e àquela família que insistentemente lhe chamava de filha mas a quem ela decididamente decidiu tratar pelo nome.

Cruzou novamente a porta, alheia, desligada, e nos sapatos verdes levou a sua flor de feltro, vermelha.

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